quinta-feira, 17 de junho de 2010

A chama da vela

- Não entres! Não entres!-avisou a chama de uma vela enfiada no gargalo da garrafa , sobre a mesa da casa, à borboleta nocturna, que queria atravessar o vidro da janela, atraída pela luz.
- Era bom que eu pudesse!...-respondeu-lhe de fora a borboleta. -Estou farta de bater com a cabeça não sei onde.
- Isso em que tu bates é o vidro –disse a chama a crepitar – e embora transparente, só a luz do Sol e a minha o atravessam com facilidade .Mas um dos vidros da janela está partido, e por aí entra quem quer.
- Qual deles é?-perguntou a borboleta ansiosa.
- Não te digo!Se entrares em casa , começas às voltas e reviravoltas em meu redor. E, no momento em que as tuas asas de cetim me tocarem ficam logo queimadas e nunca mais podes voar. E é uma pena!...

O lobo e o cordeiro

Como naquele dia o Sol brilhava e fazia calor, um lobo dirigiu-se a um ribeiro. Quando se preparava para mergulhar o focinho na água, viu um cordeiro que bebia tranquilamente.
-Vem mesmo a propósito! Pensou o lobo. Vim para beber e encontro também para comer…
E, aclarando a voz, pôs um ar severo e exclamou:
- Eh! Tu aí!
-É comigo que está a falar, senhor? –Respondeu o cordeiro. Que deseja?
- O que é que desejo? Não vês que ao beber me turvas a água?
- Como pode dizer isso? Olhe como bebo com a ponta da língua… Além disso, eu estou mais abaixo e o senhor mais acima!
- Com a tua idade já me queres ensinar para que lado corre a água? Pensas que te escapas como no ano passado, quando andavas a dizer mal da minha família? Tiveste muita sorte por eu nunca te ter encontrado!
- Não sei quem lhe terá contado coisa, mas no ano passado ainda não tinha nascido.
-Pois se não foste tu, foi o teu pai! – Rosnou o lobo, saltando em cima do pobre inocente.

Viajar é descobrir!

Queres viajar,Maria Flor?
Viajar é correr mundo,
Voar mais alto que os pássaros.
Ou pisar o chão da terra
Ou as ondas do mar alto...

É ver bichos
De muitas cores e feitios
Montanhas,
Rios
E ribeiros
E pessoas
E lugares....
Conhecer e descobrir,
Inventar e duvidar,
Sabendo cada vez mais
Sem nunca pensar que basta.
O mundo que se conhece
E alargá-lo com amor
Dentro de nós e dos outros.

Alves Redol